Para poder dizer viver valeu
Para poder dizer viver valeu Ricardo Gondim Desisto da felicidade que me ensinaram. Procurei por esta dama virtuosa feito um caçador de borboletas. Armado de rede e binóculos, percorri florestas e cavernas buscando prender a libélula da satisfação plena. Acabei frustrado: quanto mais eu persegui a tal felicidade, mais ela voou para longe de mim. Rejeito o gozo esfuziante dos folhetins. Agora vou perseguir um outro tipo de existência. Pergunto aonde foi parar o mundo que eu experimentei em minha infância. Nós andávamos pela cidade sem o pavor da morte. Os meninos achavam mangueiras para jogar pedras e lagoas para nadar. Acabei inconformado com a crueldade tecnológica que desmanchou a brincadeira de pular corda, de amarelinha. O universo dos aparelhos, das conexões, dos jogos eletrônicos parece menos infantil. Não quero uma felicidade que evita o abraço esquálido dos que foram condenados à miséria ou o sorriso dos idosos que se arrastam pelas calçadas esburacadas da cidade. Pro