Chamou-me em sonhos
Chamou-me em sonhos
Ele chamou-me em sonhos.
Queria ter certeza que não confundiria sua voz. Era tarde, estava frio. O
cansaço de toda uma caminhada, agora pesava em meus ombros. E minha audição já
não se encontrava tão apurada como outrora.
O vigor do meu ânimo
desaparecera nas minhas andanças. O que dificultou atentar para o som suave da
voz que chamava por meu nome.
Ergui-me a muito custo. Limpei
o resquício de sono dos olhos e tentei fixar-lhe o olhar.
Ele sorriu cúmplice com meu
estado abatido.
Faz tempo que está me
chamando? - Perguntei querendo terminar logo aquela conversa para voltar a
dormir.
Estive aqui o tempo todo. Ele
respondeu e calou, limitando apenas a olhar-me
Se me chamou, quer falar
alguma coisa, pode falar. – Disse esperando que lesse minhas entrelinhas que
estavam cheias de desânimo e vazia de paciência.
Vim te escutar. – Continuou
observando-me
Não entendi, me chamou e não
quer me dizer nada? Eu não tenho nada a dizer, só quero voltar a dormir, tenho
trabalhado tanto!
E ele segue a olhar-me
- Bom já que me acordou e vai
ficar aí, vou dizer uma coisa: ESTOU EXAUSTA! Meus dias estão acabando comigo!
Não tenho tempo pra mais nada nesse minha vida! Até o tempo que tinha para
conversar contigo estão cada vez mais raros! Lembro que passávamos horas e horas
falando sobre tudo! Lembro que nossas conversas norteavam cada um dos meus
passos. E hoje?! O que tenho?! Tarefas e mais tarefas inacabáveis, que sugam
minhas energias e paciência.
- Sem falar que ao final do
dia percebo que toda minha agitação e correria não foram suficientes, porque
várias atividades deixaram de ser executadas!
- É sério! Tenho que te
confessar que tem dias que me dá uma enorme vontade de jogar tudo por alto e
virar eremita.
- O chefe cobra excelência, o
marido cobra perfeição, a igreja cobra assiduidade, a sociedade cobra, família
cobra, cobra, cobra! Argh! Que ser humano normal aguenta isso hein?!
Choro. É um lamento de quem
sofre as mazelas do mundo. De alguém que ficou só em meio a multidão de
problemas.
- Não quero dar uma de ingrata
não! Mas, não tenho sentido que você está por perto. É como se tivesse me dado
emancipação quando ainda não me sentia emancipada.
- Oro, e escuto minhas
próprias palavras no vazio que se move ao meu redor. Procuro teu colo e encontro
vazio ainda maior.
- Tenho consciência de meus
pecados, não sou a filha perfeita, mas sou filha poxa! Dependo de você pra
tudo.
Lágrimas grossas, soluços
descompassados.
- Sabe, sou privilegiada por
você me ouvir. Olho para as pessoas ao meu redor, e elas são tão sozinhas e
vazias. Fico me perguntando: Como conseguem?
Pela primeira vez ele me
interrompe, mas apenas para ajudar-me a inclinar minha cabeça em seu ombro.
As lágrimas continuam. Mansas,
dessa vez, como se a tempestade tivesse se transformado em serena chuva.
Ele levantou-se, então me
olhou, enxugou minhas faces e me colocou em pé. Depois me envolveu em um abraço
que limpou todos os galhos, gravetos, troncos e entulhos que havia em meu
interior.
- Deixo-te em Paz. Na minha
Paz. – disse essas palavras e afastou-se suavemente.
Despertei com o celular
tocando. Era hora de trabalhar. Acordei com a sensação de que tinha chorado, mas
não havia sinais de lágrimas em meu rosto, muito menos motivo para chorar.
No travesseiro ao lado a
Bíblia aberta, lembrei que faria meu devocional noturno, já que não tivera tempo
de fazê-lo pela manhã.
Pensei ter sonhado. Mas não
lembrava a temática do sonho. Sentia-me tão amada, tão protegida, tão consolada
que o teor do sonho não importava. Se, porventura, tivesse alguma significância
mais tarde eu lembraria.
Peguei a Bíblia.
Eu os conduzi com laços
de bondade humana e de amor;
tirei do seu pescoço o
jugo e me inclinei para alimentá-los.
Oséias 11:4 NVI
Era exatamente como me sentia.
Entrelaçada por uma enorme teia de amor, totalmente livre dos meus fardos e
saciada na minha totalidade. Agradeci ao PAI por cuidar de mim tão de perto,
mesmo que meus passos me conduzissem no sentido contrário dos caminhos que ele
traçou para mim. Sentía-me atraída por um imã superpotente em amor.
Foi aí que lembrei, com
riquezas de detalhes, tudo que sonhara na noite anterior, rendida prostei-me
diante Dele que é a primazia de tudo em meu viver. Agradeci por ele ter me
chamado em sonhos, já que na vida real, eu o deixara de lado.
Noh
Oliveira
Vivendo sonhos aprendendo
em lágrimas.
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