O enigma da Simplicidade


      Eu era apenas uma garotinha quando aprendi algumas das maiores lições da minha vida, sem saber que tempos depois, coisas tão simples poderiam valer tanto.
      Lembro-me de uma casa, de um cachorro que de tão obeso só conseguia se locomover em cima de um skate - os dias de usar suas quatro patas para caminhar haviam terminado -. Mas acima de tudo, lembro-me do jovem senhor que, sentado em uma cadeira de balanço - que ficava na sala -, conversava com meu pai enquanto a jovem senhora e minha mãe se falavam em outro canto da casa. O mestre das lições que jamais esqueci, era o mesmo jovem senhor da cadeira de balanço. Ele me ensinou que não havia problema algum em comer pizza com azeite de oliva em vez de usar catchup e maionese como cobertura. Por mais que tente não consigo me lembrar de alguma vez vê-lo cumprimentar alguém sem sorrir, mas lembro que quase todas as pessoas sorriam quando ele estava com elas.
      Eu era apenas uma criança, naquela época achava que coisas tão simples como uma conversa, uma pizza e sorrisos eram somente o que aparentavam ser. Mal sabia eu que, aquilo que chamava de simples, é muito mais complexo do que imaginava, só depois que cresci - pelo menos um pouco - enxerguei o enigma que essa simplicidade nos dá para que possamos resolvê-lo e aprender com ele.
      Certamente eu não prestava atenção nas conversas entre meu pai e o jovem senhor - me interessava mais pelo cachorro obeso -, porém mais tarde percebi que aquelas palavras sendo trocadas era uma demonstração da mais pura amizade.
      Ele me ensinou uma maneira de comer pizza, mas o que aprendi vai além disso. A resolução do enigma da pizza é a de que: se você sabe algo que outra pessoa não tem conhecimento, deve ajudá-la ao invés de orgulhar-se ou humilhar aquele que não sabia o mesmo que você.
      Os sorrisos não eram falsos para que ele pudesse parecer forte em qualquer situação, era um ato de carinho mostrado a todos independente de raça, religião ou status social.
Passaram-se alguns anos até que eu conseguisse interpretar tais enigmas. Tempo suficiente para que o jovem senhor e sua amada esposa mudassem para outra cidade, depois disso só os vi pouquíssimas vezes, porém meu carinho por aquela família nunca deixou de existir.
      Foi no dia 13 de outubro de 2010 - não sou muito boa com datas, mas desta eu não esqueci-. O telefone tocou por volta das 18:30, a voz do outro lado acabara de dizer a minha mãe que o jovem senhor havia morrido. Naquela noite senti uma tristeza que até então não havia experimentado. Senti a dor da perda, aquela dor que corroi de dentro para fora consumindo seus sentimentos e sufocando seu sossego. O enigma de algo simples e corriqueiro como a morte eu não consegui desvendar. Decidi ir à varanda de casa para refrescar corpo e mente. Chorei. Olhei para a lua, ela sorria pra mim e naquele momento senti paz - e consegui sorrir antes de chorar de novo -, pois sabia que ela sorria pra me dizer que, o jovem senhor que tanto me ensinara, estava bem, estava lá no alto em algum lugar… Descansando.

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